O rio que corre abaixo do rio

2024, março

Bordado e aquarela sobre pano de algodão cru

42 x 59,4cm

“O rio que corre abaixo do rio é o mistério da vida.

A bússola do invisível em sua fluidez.

Não há presente, passado ou futuro: quando o rio corre dentro de mim, eu corro.”

A obra foi inspirada no antigo conto latino-americano La Llorona, onde o Río Abajo Río é um mundo-entre-mundos, a fonte do mistério e da criatividade. Descer até lá fortalece a determinação de lutar pela redenção. Os têxteis, por tanto tempo marginalizados pelos cânones da arte, carregam uma força incontornável. O bordado, como um fio que atravessa os espaços e tempos, é um veículo de conexão entre o humano e o mundo. Reminiscente de um mapa, a peça busca o fio que une o ancestral ao futuro. Em sua essência, resgatar essa conexão é um ato de cura, uma resposta à vertigem temporal da contemporaneidade.

O grito do silêncio

2023, abril

Instalação de bordados e aquarela sobre objets trouvés e objetos autorais.

2 x 1,20m

“Para mim, as palavras sempre foram mais tangíveis do que os próprios objetos da memória. Palavras ditas verbalmente são esvaziadas e transmutadas. O que está escrito é. Eu fecho meus olhos e vejo palavras. Tento transformá-las em objetos, pensamentos, imagens… Não consigo traduzi-las.

Sempre achei as expressões artísticas femininas baseadas em suas experiências pessoais de violência patriarcal relevantes e admiráveis, mas nunca imaginei que seria uma dessas artistas. Decidi quebrar meu silêncio.”

Com palavras e frases bordadas em suportes tradicionais e não tradicionais – entre objets trouvés e objetos autorais, a obra se baseia nas experiências pessoais da autora como mulher em uma sociedade patriarcal. A narrativa contextualiza – de forma dialógica e artivista – os eventos traumáticos, utilizando objetos que estavam presentes nos episódios. O trauma é abordado de um ponto de vista figurativo, sem almejar uma tradução literal dos eventos, mas sim permitindo que o espectador construa sua própria percepção e significados.

A obra foi inaugurada na exposição iArtes 2023 no Museu de Lanifícios, na Covilhã – Portugal, durante a 5.ª edição das Jornadas de Investigação Artística da Faculdade de Letras da Universidade da Beira Interior, em maio de 2023.

Resgate: bordado, tempo e imagem

2022, fevereiro

Bordado e aquarela sobre pano de algodão cru

24,5 x 31,5cm (x9)

A partir de uma narrativa tríptica, a obra critica a temporalidade e o isolamento das sociedades moderno-contemporâneas, propondo um renascimento ancestral através do tempo humano que caracteriza o bordado, em oposição ao tempo da máquina. Cada tríptico simboliza uma fase do processo de resgate interno que ocorre a partir do autoconhecimento, sendo elas a alienação, a procura e, como fase final, a libertação. Os processos que resultaram na obra foram documentados em tempo real por meio de produção visual, com o objetivo de transmitir ao espectador a lentidão do que é feito à mão. Os vídeos podem ser assistidos aqui.

A obra foi inaugurada na exposição coletiva Janela da Diversidade, parte da 5ª edição das Jornadas de Investigação Artística da Faculdade de Letras da Universidade da Beira Interior, em maio de 2022. Após a primeira exposição, a obra foi enviada para a galeria New Hand Lab, também na Covilhã, onde permanece como parte do acervo.

A concepção da obra derivou da pesquisa acadêmica sobre temporalidade, apresentada na 5ª edição das Jornadas de Investigação em Artes (2023) na Universidade da Beira Interior (Portugal) e no XX Enecult: encontro internacional de culturas (2024) na Universidade Federal da Bahia (Brasil). O artigo pode ser lido aqui.